Imagine-se ouvindo aquela música que marcou sua adolescência, revendo um filme antigo ou folheando um álbum de fotos empoeirado. Em poucos segundos, você é transportado para um tempo que já passou — e, estranhamente, se sente melhor. Esse fenômeno tem nome: nostalgia.
Mais do que uma simples saudade, a nostalgia é uma ferramenta poderosa do nosso cérebro para nos manter emocionalmente conectados, especialmente em tempos de incerteza. É por isso que, mesmo em pleno 2025, turnês de bandas como The Cure ou Blur esgotam em minutos, e personagens antigos do McDonald’s voltam às telas como estrelas. Não é apenas marketing: é neurociência emocional.
Nostalgia é mais do que lembrar
Sentir nostalgia não é um sinal de apego excessivo ao passado, como muitos pensam. Pelo contrário, estudos mostram que reviver momentos marcantes pode aumentar nossa vitalidade, reforçar nosso senso de identidade e até nos deixar mais otimistas. O termo técnico para isso é autocontinuidade — a sensação de que ainda somos a mesma pessoa ao longo do tempo, apesar das mudanças externas.
Essa ligação entre passado e presente nos ajuda a compreender quem somos. Quando recordamos uma festa da infância, uma viagem marcante ou até o sabor de uma receita da avó, estamos reconectando partes de nós mesmos que ainda vivem dentro da memória. E mais: muitas dessas memórias incluem outras pessoas, o que reforça nosso senso de conexão social.

Nostalgia como “sistema imunológico” da mente
Psicólogos já definiram a nostalgia como uma espécie de “resposta imunológica psicológica”. Ela tende a surgir com mais intensidade justamente quando estamos tristes, solitários ou passando por períodos difíceis. Não por acaso, a pandemia de Covid-19 fez crescer o consumo de músicas, filmes, séries e objetos que remetem ao passado. Reviver tempos mais simples ajuda a suavizar as dores do presente e a construir esperança para o futuro.
Ao lembrar de algo bom, nosso cérebro ativa áreas ligadas à recompensa, à autorreflexão e à regulação emocional. Há estudos que mostram até mesmo efeitos físicos: pessoas expostas a estímulos nostálgicos relataram menor percepção de dor e mais energia após a experiência. Ou seja, há uma base neurológica para aquela sensação gostosa de revisitar memórias queridas.
O filtro cor-de-rosa da memória
É claro que a nostalgia nem sempre pinta um retrato fiel da realidade. Nossa mente tende a lembrar do que foi bom e suavizar o que foi difícil. Um antigo ditado diz que “recordar é viver” — e parte disso envolve lembrar da vida por um ângulo mais gentil. Mesmo memórias tristes podem ganhar uma tonalidade doce com o tempo, como se fossem vistas através de um filtro cor-de-rosa.
Isso tem uma função evolutiva: se lembrássemos de tudo com exatidão, inclusive dos sofrimentos, seria mais difícil repetir experiências como criar filhos, assumir compromissos ou mudar de cidade. Em vez disso, nosso cérebro favorece aquilo que nos impulsiona a seguir em frente.
A nostalgia é uma bússola emocional
Mais do que uma fuga do presente, a nostalgia pode ser uma bússola emocional que nos guia de volta ao que realmente importa. Ela nos lembra de quem fomos, do que valorizamos e de como construímos os vínculos que moldam nossa história. Em tempos de instabilidade, ela oferece a sensação reconfortante de continuidade, propósito e pertencimento.
Mas, como tudo, deve haver equilíbrio. Viver apenas no passado pode paralisar, impedir que nos adaptemos ao novo ou criemos novas memórias significativas. A chave está em usar o passado como impulso — e não como abrigo permanente.
No fim das contas, a nostalgia nos revela algo simples e profundo: ainda que o tempo passe, certas partes de nós continuam intocadas. E isso pode ser tudo o que precisamos para seguir adiante com o coração mais leve.