Um levantamento realizado pelo Datafolha, entre os dias 2 e 4 de dezembro, aponta que a maioria dos eleitores brasileiros (54%) concorda com a avaliação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o incidente envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para essa parcela da população, Bolsonaro teve a intenção de fugir ao danificar a tornozeleira eletrônica que utilizava durante o cumprimento de prisão domiciliar.
A pesquisa ouviu 2.002 eleitores em 113 municípios e revela um país ainda dividido sobre as motivações do ex-mandatário. Enquanto mais da metade vê dolo na ação, 33% dos entrevistados acreditam na versão apresentada pela defesa e pelo próprio ex-presidente: a de que o ato foi fruto de um surto psicológico ou confusão mental. Outros 13% não souberam opinar sobre o episódio.
“Polarização” e recortes demográficos
Os dados do Datafolha evidenciam que a interpretação do fato varia drasticamente conforme o espectro político e a região do eleitor. A polarização política reflete-se em números espelhados: 66% dos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam na tese de tentativa de fuga. Exatamente o mesmo percentual (66%), mas entre os eleitores de Bolsonaro, aposta na hipótese do surto.
O recorte regional também apresenta divergências significativas. No Nordeste, região historicamente mais alinhada à esquerda, 61% concordam com o entendimento do ministro Alexandre de Moraes sobre o risco de fuga. Já no Sul, Norte e Centro-Oeste, a aceitação da justificativa de “surto” sobe para 40%, embora ainda não seja a maioria absoluta.
Entre as faixas etárias, os mais jovens (16 a 24 anos) mostram-se mais céticos em relação à defesa do ex-presidente: 60% veem intenção de fuga. Em contrapartida, o recorte por renda mostra que entre os eleitores mais ricos, a tese do surto ganha mais força, alcançando 40% de adesão.
Relembre o caso
O episódio que motivou a pesquisa ocorreu antes do início do cumprimento da pena atual de Bolsonaro, fixada em 27 anos e 3 meses no processo referente à trama golpista. O ex-presidente admitiu ter utilizado um ferro de solda para violar o dispositivo de monitoramento eletrônico.
Na ocasião, a defesa alegou que ele passava por um quadro de “alucinação” e “confusão mental”, supostamente provocado pela interação medicamentosa, acreditando haver escutas no aparelho. A violação do dispositivo foi o estopim para a decretação de sua prisão preventiva à época. O caso segue repercutindo como um dos capítulos centrais nas batalhas jurídicas que envolvem o ex-chefe do Executivo.







