As eleições de 2026 em Goiás começam a delinear um cenário competitivo e multifacetado. A pesquisa do Instituto Veritá, aplicada exclusivamente em Goiânia no mês de abril de 2025, oferece um recorte inicial relevante, mas insuficiente para captar a totalidade do ambiente político-eleitoral do estado. Com base nos resultados da pesquisa e nas observações do artigo assinado por Wilson Silvestre do jornal O Hoje, esta análise busca destacar elementos não imediatamente visíveis, mas essenciais para compreender os rumos da disputa.
Daniel Vilela: Exposição, Recall Institucional e o Desafio da Imagem
Daniel Vilela lidera a pesquisa estimulada com 36,8% das intenções de voto entre os eleitores da capital. Sua posição reflete o alto nível de conhecimento junto ao eleitorado e sua vinculação direta com a gestão estadual atual, da qual é vice-governador. A liderança de Daniel, portanto, não decorre apenas de capital político próprio, mas sobretudo da transferência simbólica da popularidade de Ronaldo Caiado, que goza de aprovação superior a 80% em Goiânia.
No entanto, o desempenho de Daniel deve ser analisado com cautela. Sua imagem permanece praticamente intacta em termos de enfrentamento eleitoral. Ainda não se verificou exposição a conteúdos de desconstrução, nem oposição sistemática por parte de adversários. A experiência acumulada em pesquisas eleitorais indica que candidatos em situação de liderança sem histórico de desgaste são mais vulneráveis a retrações quando submetidos à crítica sistemática e ao escrutínio do debate público.
Wilder Morais: Visibilidade Municipal e o Desafio da Consistência Estadual
Wilder Morais aparece com 24,5% das intenções de voto, consolidando-se como o segundo nome mais citado no universo pesquisado. A hipótese predominante para esse desempenho está associada à eleição municipal de 2024 em Goiânia, onde o candidato Fred Rodrigues (PL), diretamente vinculado a Wilder e ao partido, alcançou o segundo turno, resultado considerado improvável até então.
Wilder, presidente estadual do PL e padrinho político de Fred, esteve fortemente presente na campanha municipal, o que reforçou sua visibilidade entre os eleitores da capital. No entanto, essa popularidade deve ser interpretada como conjuntural. Dados de pesquisas anteriores demonstram que a população tem dificuldade em avaliar a atuação de senadores, o que reforça a ideia de que o desempenho de Wilder está vinculado ao ambiente político local e não necessariamente à sua atuação parlamentar.
Sua rejeição é relativamente baixa (12,6%), o que indica potencial de crescimento. Entretanto, permanece a incógnita sobre sua capilaridade no interior, componente tradicionalmente decisivo nas eleições goianas para o Executivo estadual.
Marconi Perillo: Rejeição na Capital e Força Residual no Interior
Com 14,5% das intenções de voto estimuladas e rejeição de 30,2% na capital, Marconi Perillo enfrenta um ambiente adverso em Goiânia. No entanto, esse diagnóstico não pode ser generalizado para o estado como um todo. Pesquisas de diferentes institutos, inclusive da Grupom, demonstram que Marconi apresenta desempenho superior no interior, frequentemente ocupando a segunda posição nas intenções de voto.
Esse fenômeno está em linha com o padrão histórico do comportamento eleitoral em Goiás, onde os governadores geralmente são eleitos a partir de articulações e apoios construídos no interior e, posteriormente, consolidados na capital. Não há evidência, até o momento, de que essa lógica tenha se alterado de forma estrutural.
A possível nostalgia por gestões anteriores pode funcionar como ativo simbólico, mas ainda não está claro se o eleitorado interiorano enxerga Marconi como alternativa viável para o futuro ou apenas como referência do passado.
Adriana Accorsi: Densidade Partidária e o Limite da Rejeição
Adriana Accorsi, representante do PT, registra 24,2% das intenções de voto estimuladas, desempenho que revela a força da legenda entre determinados segmentos da capital, especialmente entre eleitores mais jovens e de menor renda. No entanto, a candidata enfrenta uma rejeição muito elevada (48,8%), a maior entre os nomes testados.
Esse dado impõe um limite objetivo ao seu crescimento, restringindo sua competitividade em um eventual segundo turno. Embora o PT possua base sólida e militância ativa, a resistência de segmentos mais amplos do eleitorado goiano à legenda representa um desafio estrutural à viabilidade da candidatura, especialmente fora da capital.
Dimensões Estratégicas para Análise Complementar
A pesquisa Veritá oferece um retrato válido de Goiânia, mas o processo eleitoral em Goiás exige leitura multifatorial. Abaixo, destacam-se vetores analíticos relevantes que deverão ser incorporados nas próximas análises:
• Interiorização do Voto: Municípios como Rio Verde, Jataí, Catalão, Itumbiara e Luziânia representam polos decisivos.
• Segmentação Eleitoral: Comportamento de jovens, aposentados, empresários, servidores públicos, população evangélica e agricultores.
• Temas Mobilizadores: Saúde, segurança pública, geração de emprego e infraestrutura serão centrais na decisão do voto.
• Configuração das Alianças: A composição partidária e o apoio de lideranças regionais influenciarão diretamente a disputa.
• Rejeição e Potencial de Crescimento: Devem ser avaliados de forma cruzada com intenção de voto e grau de conhecimento.
• Entorno do DF: Municípios como Valparaíso, Águas Lindas e Novo Gama têm demandas específicas que precisam ser consideradas.
• Ambiente Econômico: A percepção da população sobre a economia impactará candidaturas da base governista e da oposição.
Limitações da Pesquisa Veritá e do Recorte Geográfico
A pesquisa do Instituto Veritá foi realizada apenas em Goiânia e, portanto, não possui representatividade estadual. Embora a capital concentre um eleitorado politizado e de forte influência nas redes sociais e na imprensa, a análise do cenário eleitoral de Goiás exige amplitude geográfica e diversidade de perfis amostrais.
Inferir tendências estaduais a partir de dados exclusivamente urbanos pode levar a conclusões enviesadas. A cultura política, o grau de exposição às candidaturas e as prioridades do eleitorado variam substancialmente entre capital, região metropolitana e interior.
A pesquisa Veritá, portanto, deve ser interpretada como um retrato parcial, útil para diagnóstico de imagem e comunicação na capital, mas insuficiente para modelagem preditiva do cenário estadual.
Mario Rodrigues Neto é Diretor Técnico e Comercial da Grupom. Engenheiro de Produção Mecânica (UFSC 2002) e Mestre em Engenharia de Produção (UFRJ 2005), trabalha diretamente com a operação e a atividade técnica de pesquisas de mercado e de opinião desde 2006. Desde 2015 é também responsável pela elaboração dos projetos e propostas comerciais da empresa. Desenvolve atividade docente com interesse nas áreas de educação da engenharia, estatística e marketing. Foi professor da PUC Rio (2009 a 2012).