O empresário Igor Dias Delecrode, de 28 anos, compareceu nesta segunda-feira (10) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o programador optou por permanecer em silêncio durante toda a sessão.
Delecrode é apontado como um dos principais articuladores de um esquema que teria usado tecnologia para burlar o sistema previdenciário. Segundo as investigações, ele seria o responsável por desenvolver um programa capaz de falsificar biometrias e assinaturas digitais, o que deu aparência de legalidade a descontos realizados em benefícios de aposentados e pensionistas. O esquema, de acordo com o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), teria movimentado mais de R$ 1,4 bilhão.
Mesmo diante das perguntas de parlamentares, o empresário manteve o silêncio, amparado pelo direito constitucional de não produzir provas contra si. Em sua breve fala inicial, limitou-se a informar que mora em São Paulo, é formado em auditoria financeira e atua no setor de tecnologia da informação.
Durante o depoimento, o relator afirmou que o empresário teria recebido cerca de R$ 15 milhões em menos de um ano por meio de empresas de tecnologia de informação. Segundo Gaspar, as ferramentas criadas por Delecrode serviram para mascarar operações ilegais que lesaram milhares de aposentados.
Outros parlamentares também criticaram a postura do empresário. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) o descreveu como o “cérebro tecnológico” das fraudes, acusando-o de ter prestado serviços a entidades que obtiveram, de forma ilegal, a adesão de mais de 100 mil aposentados em apenas um mês.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que o caso mostra falhas na fiscalização dos órgãos públicos e defendeu reformas administrativas para reforçar a supervisão de contratos e sistemas. Já a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) citou decisões tomadas durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro como possíveis facilitadoras do esquema.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), também fez críticas duras ao STF por conceder o habeas corpus que garantiu o silêncio ao depoente. Para ele, a medida “enfraquece o trabalho de investigação do Congresso Nacional”.
Ao final da sessão, a comissão aprovou, por votação simbólica, a apreensão do celular de Delecrode e o acesso a seus aplicativos de mensagens. O empresário entregou o aparelho, um iPhone 17 recém-comprado, mas se recusou a fornecer a senha. O advogado de defesa, Levy Magno, contestou a decisão e afirmou que a apreensão deveria ter sido determinada por ordem judicial. O pedido de devolução foi negado pelo presidente da CPMI.
Segundo informações apresentadas durante a reunião, mais de 3 milhões de aposentados já receberam ressarcimentos de descontos indevidos relacionados ao esquema, totalizando mais de R$ 2 bilhões. O prazo para novas solicitações foi prorrogado até 14 de fevereiro de 2026.
*Com Agência Senado









