O volume de debates políticos nos grupos de WhatsApp — sejam eles de família, amigos ou trabalho — sofreu uma queda drástica nos últimos três anos. O motivo não é o desinteresse pelo tema, mas o receio. Segundo um levantamento inédito divulgado nesta segunda-feira (15), o medo de hostilidades e a preservação das relações pessoais fizeram com que o brasileiro adotasse uma espécie de “lei do silêncio” no aplicativo.
A pesquisa Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens, realizada pelo centro de pesquisa InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social, revela um cenário de exaustão digital. Se em 2021, auge da polarização, 34% dos usuários afirmavam que os grupos de família eram o principal palco de notícias políticas, em 2024 esse número caiu para 27%. Nos grupos de amigos, a redução foi ainda mais expressiva: de 38% para 24%.
O fator medo e a autocensura
O dado mais alarmante do estudo aponta para a qualidade do debate público: 56% dos entrevistados admitiram ter medo de emitir opiniões políticas no aplicativo. A justificativa comum é que o ambiente se tornou “muito agressivo”.
Essa percepção de hostilidade é democrática e atravessa todo o espectro ideológico. O receio de se posicionar foi relatado por:
- 66% das pessoas que se identificam com o centro;
- 63% das pessoas que se consideram de esquerda;
- 61% das pessoas que se declaram de direita.
Para evitar o desgaste, consolidou-se um comportamento de autocensura. Cerca de 50% dos participantes afirmaram evitar tocar no assunto em grupos familiares para “fugir de brigas”. Outros 29% foram mais radicais e optaram por sair de grupos onde não se sentiam confortáveis para se expressar.
Estratégias de sobrevivência digital
O levantamento, que ouviu 3.113 pessoas em todas as regiões do país entre novembro e dezembro de 2024, mostra que o usuário brasileiro amadureceu suas estratégias de uso. Para os 44% que ainda se sentem seguros para falar de política, a tática mudou:
- Migração para o privado: 34% preferem debater no “um a um” (inbox) do que em grupos.
- Uso do humor: 30% utilizam memes e mensagens engraçadas para tocar no assunto sem gerar atrito.
- Bolhas de concordância: 29% só falam sobre o tema em grupos onde sabem que todos pensam igual.
Apenas uma minoria, cerca de 12%, afirma compartilhar conteúdos polêmicos mesmo sabendo que podem causar desconforto.
Amadurecimento das redes
Segundo Heloisa Massaro, diretora do InternetLab, os dados indicam um “amadurecimento” no uso da ferramenta. O WhatsApp, arraigado no cotidiano nacional, passou a ter normas de etiqueta não escritas. As pessoas desenvolveram uma ética própria de sobrevivência digital, priorizando a convivência pacífica em detrimento do embate ideológico constante que marcou os anos anteriores.
*Com informações da Agência Brasil








