Na manhã desta quarta-feira (03/12), uma aula de Geopolítica na Universidade Federal de Goiás (UFG) acabou se tornando uma discussão acalorada entre estudantes de Jornalismo e Wilker Leão. O influenciador digital — ex-estudante de História da UnB e atual discente da Universidade Estadual de Goiás (UEG) — é conhecido por gerar polêmicas ao confrontar professores e gravar aulas sem aviso prévio.
O evento, aberto à comunidade, recebia um palestrante convidado para debater as complexidades do conflito entre Israel e Palestina. Segundo relatos, o clima de debate acadêmico deu lugar à confusão quando Leão iniciou uma série de questionamentos.
“Passada de pano”
Durante o momento aberto para perguntas, Wilker apontou uma suposta “hipocrisia” de movimentos sociais e do governo brasileiro em relação ao Hamas.
“É curioso para mim o fato de que essas questões são apresentadas muitas das vezes com base em subjetividade, mas o outro lado não é enxergado”, disse Wilker ao microfone. Ele argumentou que grupos LGBTs que apoiam a causa palestina “seriam assassinados” em territórios dominados pelo grupo.
O youtuber subiu o tom ao acusar o palestrante e o governo federal de “suavização” e “passada de pano” para o extremismo. O professor rebateu, diferenciando a resistência palestina de atos terroristas e contextualizando o ataque de outubro de 2023 em um histórico de décadas de conflito. A explicação, no entanto, foi cortada por interrupções constantes de Leão.
Gravações não autorizadas
Além do embate ideológico, a conduta de Wilker e de uma acompanhante gerou revolta. Estudantes denunciaram que ambos filmavam a sala, o professor titular, Eguimar Felício Chaveiro e o professor convidado Camilo Pereira, e os alunos sem autorização prévia, o que pode configurar violação de direito de imagem.
“A gente foi percebendo movimentações estranhas, uma pessoa gravando a nossa imagem sem autorização. No final, tentei ser respeitosa, mas ele não queria ouvir, queria o tempo inteiro estar contrapondo”, afirmou uma aluna, destacando o desrespeito com o docente.
Outra estudante presente, reforçou que a intenção parecia ser performática. “No momento que abriu para debate, ele começou a querer aparecer. Na hora que o professor tentava dar uma devolutiva, ele aumentava o tom de voz”, explicou. Segundo ela, a acompanhante de Wilker também agiu de forma estranha: “Ela trocava de lugar e filmou diversos alunos tentando ser discreta”.
Narrativa de “doutrinação” e busca por engajamento
A forte reação da turma — descrita por fontes como um “linchamento verbal” — ocorreu pela percepção de que Leão não buscava o debate, mas sim “gerar ibope” e lucro financeiro.
Para os alunos, o objetivo do youtuber era desqualificar o trabalho acadêmico para sustentar a narrativa de que a Universidade Federal pratica “doutrinação ideológica”, ignorando que a exposição do professor se baseava em pesquisa e fatos históricos.
Histórico de confrontos
Wilker Leão acumula uma série de episódios semelhantes. Ex-cabo do Exército, ele ganhou notoriedade nacional em 2022 ao chamar o então presidente Jair Bolsonaro de “tchutchuca do Centrão”, gerando um confronto físico na saída do Palácio da Alvorada.
No âmbito acadêmico, o discente foi expulso da Universidade de Brasília (UnB) após reiterados processos disciplinares por gravar docentes e outros estudantes para exposição em seu canal no YouTube. Atualmente cursando História na UEG, ele mantém a prática de frequentar outras instituições para produzir conteúdo com viés provocativo.
Até o fechamento desta matéria, a UFG não havia emitido nota oficial sobre o incidente.










