Um comanda a China e o outro, a Rússia. Rola um papo descontraído durante uma parada militar em solo chinês e o assunto é imortalidade. Nada de novo na humanidade. Quem discute mortalidades sou eu, é você, nós, simples mortais.
Vladimir Putin foi quem puxou a conversa transcendental. Disse que transplantes de órgãos podem ser feitos repetitivamente, de modo que o receptor fique cada vez mais novinho em folha. Estava alegre, andava com desenvoltura. Tudo traduzido, notado e transmitido por TV.
Para este século, pensar em viver 150 anos já é uma realidade, fala Putin. Xi ouve tudo sem esboçar entusiasmo, ou incômodo. Quieto. Impassivo. Notícia velha? Ou ele só não queria passar recibo de humanidade, mostrar esses sentimentos comezinhos como alegria, ansiedade, orgulho massageado?
Daqui a 100 anos, Xi e Putin estarão nos livros por marcarem uma época. Haverá um antes e depois. A gente será uma imagem vagando no universo, quando muito algumas lembranças certamente épicas de família: aqueles avós. Habitamos o mundo que ambos estão mudando todo dia. Eles comandam a festa para a qual não somos convidados, apenas lavamos as louças.
Fico pensando como seria se, papo vem, papo vai, na parada, os dois falassem “amanheci com uma fome danada”, ou “será que hoje vai chover? Vai cair geada?”, ou “meu pé tá que coça”. Se conversassem sobre esses assuntos tão primordiais para a gente, seriam feito você e eu? Desviariam por um segundo o olhar que enxerga os tempos infinitos, para nos ver?
Os imortais são o assunto. Os mortais, os que comentam. Os comandantes das potências estão lá, bem acima das nuvens, governando a terra, tratando de questões maiores, deixando as menores morrerem por eles nas guerras da vida. Somos soldados. Rasos. E eles, candidatos ao que, convenhamos, já desfrutam.
Xi e Putin vivem em estado de imortalidade totalitária. No máximo, estão morrendo de rir da gente. Com o dedo no gatilho do mundo, o que mais teria a dizer? Melhor que seja assim. Que não mudem de assunto. Sei lá o que podem decidir ao pé do ouvido.