A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) intensificou a articulação com os países do Brics para integrar esforços na produção e desenvolvimento de vacinas. A proposta, segundo o presidente da entidade, Mário Moreira, é evitar que se repita a exclusão vivida pelas nações do Sul Global durante a pandemia de covid-19.
“Na pandemia, ficamos por último na fila. A escassez de vacinas, respiradores e medicamentos escancarou o abismo entre os países ricos e os mais pobres”, afirmou Moreira à Agência Brasil. A fundação coordena o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas dos Brics e trabalha para consolidar uma base comum de projetos.
De acordo com o presidente, a desigualdade na distribuição das vacinas ficou evidente com os dados de 2023. 13,2 bilhões de doses aplicadas no mundo até março daquele ano, menos de 1 bilhão chegou à África. Os países ricos alcançaram a média de uma dose por habitante ainda em 2021. Já os de baixa renda encerraram a emergência sanitária global com apenas 40 doses por 100 habitantes.
A iniciativa se alinha à proposta brasileira no G20, que busca fortalecer uma coalizão para desenvolvimento e produção local de imunizantes. A Fiocruz já mobiliza institutos de pesquisa dos países do bloco para formar um repositório digital de projetos. O objetivo é alinhar agendas e garantir investimentos.
Moreira defendeu a participação do Banco do Brics e de grandes entidades filantrópicas, como a Fundação Gates, no financiamento dessas inovações. Ele também propôs a criação de um novo organismo multilateral voltado à ciência.
A Fiocruz ganhou protagonismo na liderança do projeto por sua capacidade de produção, atuação em saúde pública e pela experiência acumulada em cooperações com América Latina e África. A fundação já assinou novos acordos internacionais em alinhamento com as diretrizes do governo federal.
Para reforçar sua presença global, a Fiocruz abrirá um escritório em Lisboa no fim de julho, em parceria com a Apex Brasil. Outra sede deve ser instalada na Etiópia, em outubro. A Índia também está no radar da instituição, com projetos de cooperação industrial e desenvolvimento de vacinas que podem entrar no Programa Nacional de Imunizações.
A fundação assumiu ainda o comando da Rede Pasteur de Laboratórios. Presente em 25 países, e participa de um comitê da OPAS que pretende criar um consórcio de desenvolvimento e produção de vacinas e diagnósticos na América Latina.
No Brasil, a Fiocruz lançará em agosto o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde. A nova unidade pretende reduzir o chamado “vale da morte”, que separa a produção científica da inovação tecnológica, por falta de infraestrutura de ponta.
O Brics também firmou uma parceria para eliminar doenças socialmente determinadas — aquelas ligadas à pobreza e à desigualdade — como parte da Declaração do Rio. A meta é unir recursos e estratégias para enfrentar problemas crônicos de saúde que atingem especialmente o Sul Global.