Juros elevados devem desacelerar o crescimento do PIB nos próximos trimestres

Juros elevados devem desacelerar o crescimento do PIB nos próximos trimestres

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registrou seu 15º crescimento trimestral consecutivo no terceiro trimestre de 2024. Apesar do cenário positivo, a tendência pode ser revertida devido ao impacto do aumento da taxa básica de juros, medida adotada para conter a inflação.

O que aconteceu
O PIB brasileiro continuou em alta no terceiro trimestre, com um avanço de 0,9% em relação ao segundo trimestre deste ano. Apesar do crescimento, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que esta é a primeira desaceleração trimestral desde o segundo trimestre de 2023.

A economia aquecida tem favorecido o cenário para uma elevação dos juros, monitorada de perto pelo BC (Banco Central). Na ata da reunião que aumentou a taxa Selic para 11,25% ao ano, os diretores ressaltaram que o crescimento “dinâmico” da atividade econômica torna mais “desafiador” o controle da inflação.

“A gente vê claramente que ainda existe um processo inflacionário em curso, basta ir ao supermercado”, observou Marx Gabriel, CEO da MB Consultoria.

Alta dos juros freia consumo e impacta a produção nacional
A taxa Selic é o principal instrumento de política monetária para conter a inflação. O aumento dos juros reduz o interesse por financiamentos e crediários, o que inibe o consumo, afeta a produção e contribui para o controle dos preços. Para Marx Gabriel, CEO da MB Consultoria, não há perspectiva de queda nos juros no curto prazo, mesmo com mudanças na diretoria do BC a partir de janeiro. “A tendência é o crescimento do PIB desacelerar”, afirma.

Setores sensíveis ao crédito são os mais afetados
Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, elevações da Selic acima de 0,5 ponto percentual afetam diretamente setores como a construção civil e o mercado imobiliário. Esses ramos enfrentam maiores custos de financiamento e menor demanda. “Esses fatores podem levar a uma menor participação desses segmentos no desempenho econômico geral”, observa Lima.

Mercado financeiro prevê mais aumentos da Selic
O mercado projeta quatro elevações consecutivas de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, podendo alcançar 13,25% ao ano em maio de 2025, o maior nível desde setembro de 2023. A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda alerta que uma política monetária mais contracionista pode restringir o ritmo de expansão do crédito e dos investimentos, mesmo diante de um crescimento “robusto” do PIB.

Economistas defendem alternativas para sustentar o crescimento
Ana Cláudia Arruda, conselheira federal do Cofecon, cobra uma revisão das políticas monetárias para evitar sufocar a trajetória de crescimento. “É importante que as políticas baseadas em altas taxas de juros não impeçam o avanço do PIB. Esse modelo deve ser revisto o mais breve possível”, argumenta.

Preocupação com economia superaquecida e inflação
Rodrigo Romero, economista da Levante Asset, observa que o crescimento do PIB no terceiro trimestre indica que a economia está acima de seu potencial. “Esse cenário aumenta as pressões sobre a política monetária para mitigar os efeitos inflacionários”, destaca. Arruda reforça: “O maior desafio hoje é não deixar a economia brasileira aquecer demais”.

Inflação já ultrapassa o teto da meta
O IPCA acumulado em 12 meses até outubro atingiu 4,76%, superando em 0,26 ponto percentual o teto da meta definida pelo CMN. Com variações previstas de 0,27% e 0,52% para novembro e dezembro, respectivamente, a inflação deve encerrar 2024 em 4,71%.